Não se deve mentir...
Esta regra é ensinada hipocritamente pelos adultos às criancinhas, numa tentativa vã de controlar o que estas fazem, e o que lhes é feito. Enquanto a criança não mentir, os responsáveis poderão sempre perguntar e ficar a saber tudo o que se passa no seu dia-a-dia.
Até que um dia a criança ouve a mesma pessoa dizer uma mentira.
É-lhe explicado que neste caso não se podia dizer a verdade, que é uma situação sem precedentes nem exemplo.
A criança até acredita, mas cresce.
E quando cresce descobre que toda a gente mente.
Há sempre uma situação que leva alguém a mentir.
Obviamente que há mentiras e mentiras.
As grandes, as de perna curta, as piedosas, as mentirinhas e as maldosas.
Mas a verdade é que todos mentem. E aqueles que dizem que não o fazem, começam exactamente nesse momento a mentir.
Há situações em que a mentira não tem desculpa. São aquelas em que a mentira serve para não ter trabalho, para não ter cuidado. São aquelas em que a verdade surtiria o mesmo, ou melhor efeito, se fosse dita de uma forma meiga, ou cuidada, ou calma.
Às vezes, as pessoas aguentam e apreciam mais a sinceridade do que julgamos e preferem uma verdade dolorosa a uma mentira ligeira.
Porém, a mentira pode ser um mal menor. Naquelas situações em que a verdade traria prejuízos irreparáveis às relações entre humanos, prejuízos evitáveis e desnecessários. Ou porque a verdade não é nossa, ou porque simplesmente não tem importância.
Com sinceridade, felizmente, de quando em vez, somos uns grandes mentirosos!
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