30 de novembro de 2007

Sonhar...

Dizia, como ninguém, António Gedeão que o sonho comanda a vida...
Sonhos, o que são sonhos?!
- Quero ser astronauta!
- Quero acabar a minha licenciatura!
- Quero arranjar emprego!
- Quero que o meu filho venha com saúde!
- Quero um T2!
- Quero férias!
- Quero saúde!
Será que isto são sonhos? Ou sonhos serão apenas aqueles desejos inalcançáveis que fazem flutuar acima do chão e que fazem mover mundos e fundos?!
Os sonhos são as expectativas que temos de que um dia tudo será melhor, ou pelo menos, mais ao nosso gosto... E estes variam consoante a fase da vida em que estejamos, passando de irrealistas para práticos com o avançar dos anos...
Dirão os mais idealistas: "devemos sempre sonhar como as crianças, porque o sonho impulsiona o Homem e sonhar é de borla!"...
É tudo verdade, mas se aceitarmos o que temos e desejarmos apenas aquilo que podemos ter, seremos muito mais felizes!
Conclusão: «a felicidade não está em ter tudo aquilo que se deseja (e eu diria sonha), mas em desejar tudo aquilo que se tem»!

23 de novembro de 2007

História de Portugal hiper condensada e em versão cómica!

«Tudo começou com um tal Henriques que não se dava bem com a mãe e acabou por se vingar na pandilha de mauritanos que vivia do outro lado do Tejo Para piorar ainda mais as coisas, decidiu casar com uma espanhola qualquer e não teve muito tempo para lhe desfrutar do salero porque a tipa apanhou uma camada de peste negra e morreu. Pouco tempo depois, o fulano, que por acaso era rei, bateu também as botas e foi desta para melhor. Para a coisa não ficar completamente entregue à bicharada, apareceu um tal João que ajudado por um amigo de longa data que era afoito para a porrada, conseguiu pôr os espanhóis a enformar pão e ainda arranjou uns trocos para comprar uns barcos ao filho que era dado aos desportos náuticos. De tal maneira que decidiu pôr os barcos a render e inaugurou o primeiro cruzeiro marítimo entre Lisboa e o Japão com escalas no Funchal, Salvador, Luanda, Maputo, Ormuz, Calecute, Malaca, Timor e Macau. Quando a coisa deu para o torto, ficou nas lonas só com um pacote de pimenta para recordação e resolveu ir afogar as mágoas, provocando a malta de Alcácer-Quibir para uma cena de estalo. Felizmente, tinha um primo, o Filipe, que não se importou de tomarconta do estaminé até chegar outro João que enriqueceu com o pilim que uma tia lhe mandava do Brasil e acabou por gastar tudo em conventos e aquedutos. Com conventos a mais e dinheiro menos, as coisas lá se iam aguentando até começar tudo a abanar numa manhã de Novembro. Muita coisa se partiu. Mas sem gravidade porque, passado pouco tempo, já estava tudo arranjado outra vez, graças a\ um mânfio chamado Sebastião que tinha jeito para o bricolage e não era mau tipo apesar das perucas um bocado amaricadas. Foi por essa altura que o Napoleão bateu à porta a perguntar se o Pedro podia vir brincar e o irmão mais novo, o Miguel, teve uma crise de ciúmes e tratou de armar confusão que só acabou quando levou um valente puxão de orelhas do mano que já ia a caminho do Brasil para tratar de uns negócios. A malta começou a votar mas as coisas não melhoraram grande coisa e foi por isso que um Carlos anafado levou um tiro nos coiratos quando passeava de carroça pelo Terreiro do Paço. O pessoal assustou-se com o barulho e escondeu-se num buraco na Flandres onde continuaram a ouvir tiros mas apontados a eles e disparados por alemães. Ao intervalo, já perdiam por muitos mas o desafio não chegou ao fim porque uma tipa vestida de branco apareceu a flutuar por cima de uma azinheira e três pastores deram primeiro em doidos, depois em mortos e mais tarde em beatos. Se não fosse por um velhote das Beiras, a confusão tinha continuado mas, felizmente, não continuou e Angola continuava a ser nossa mesmo que andassem para aí a espalhar boatos. Comunistas dum\ camandro! Tanto insistiram que o velhote se mandou do cadeirão abaixo e houve rebaldaria tamanha que foi preciso pôr um chaimite e um molho de cravos em cima do assunto. Depois parece que houve um Mário qualquer que assinou um papel que nos pôs na Europa e ainda teve tempo para transformar uma lixeira numa exposição mundial e mamar duas secas da Grécia na final. »

A versão não é minha, achei piada porque contada em calão nem se vê a seriedade e imponência dos acontecimentos que relata... Para rir sem levar a mal!!!

20 de novembro de 2007

O médico

O ser humano é uma criatura mesmo estranha. Para além de todas as "ferramentas" físicas que permitiram que nos desenvolvêssemos até ao estado actual, a nossa mente é também uma coisa fabulosa, capaz de criar realidades paralelas e de inventar teorias para tudo e mais alguma coisa.
Porém o ser humano tem uma fraqueza que nos afecta a todos: a doença.
A doença tem a capacidade de enfraquecer o corpo da pessoa e permitir que ela revele o pior que há na sua natureza. Com o sofrimento a pessoa torna-se irritadiça, fica mais tristonha e por vezes desesperada. E quando o desespero toma conta do nosso ser, tudo é possível e nada importa, porque a nossa luta é sempre mais árdua e mais difícil do que a dos outros.
É por isto que admiro o trabalho dos médicos. Os médicos não são semideuses, são pessoas como nós, que têm problemas, contas para pagar e outras chatices. Mas para além disso, o trabalho deles é lidar com o pior do ser humano e tentar que essa relação seja o mais humana possível, sem se deixarem afectar pelos problemas dos outros. E sem esquecer que os médicos não sabem tudo e que toda a gente tem falhas no trabalho... só que as do médico podem custar a vida a alguém!!!
Quando por vezes somos observados por um médico mais "frio" lembremo-nos sempre que provavelmente aquela é mais uma capa de defesa, um meio que lhes permita distinguir aquele mundo de doenças do seu próprio mundo, deixar lá no consultório todas as energias negativas e não trazer cá para fora a angústia da doença de alguém!

17 de novembro de 2007

Harry Potter

Um ponto prévio: sou católica convicta, embora neste caso não possa deixar de expressar a minha indignação perante a posição do Papa sobre esta matéria.
Qual matéria? Pasmem-se sobre o Harry Potter!
Parece que Bento XVI se deu ao trabalho de ler a saga do feiticeiro mais famoso do mundo, e, assombrem-se as almas mais inocentes (como eu), o Papa vem condenar a sua leitura com o argumento de que vai "distorcendo-lhes [aos leitores] a cristandade e a alma" antes que elas possam desenvolver-se. E isto foi dito a uma jornalista alemã a propósito da publicação do livro sexto de J.K. Rowling. Agora com o sucesso de lançamento do último livro da saga, o comunicado do Vaticano é o de que se trata de "uma sedução subtil que tem efeitos profundamente directos, mas discretos, na deturpação da alma do cristianismo antes deste poder crescer propriamente", ou seja, a mesma coisa, mas por outras palavras.
A minha indignação prende-se com isto: alguma vez a autora disse que o Harry Potter não passava de fantasia? Alguma criança não foi ensinada de que é apenas uma história? Não estarão a esquecer-se do impacto estrondoso que os livros tiveram, beneficiando os hábitos de leitura de miúdos e graúdos mais preguiçosos?
Por esta ordem de ideias, as fábulas de La Fontaine também serão condenadas, porque as crianças acreditarão que os animais falam, assim como todas as restantes histórias de fadas e duendes... Ah e não se esqueçam de que na BD do Tio Patinhas também aparece a Maga Patalógica...
Enfim idiossincrasias com as quais não posso pactuar!

16 de novembro de 2007

A crise

Há coisas com que os portugueses aprenderam a familiarizar-se: com a internet, com os telemóveis e com a crise.
Muitos tratam a crise já por tu e esta até lhes serve de conversa nos momentos de quebrar o gelo. Como o tempo...
«'Tá frio hoje, não 'tá?»
passou agora a ouvir-se
«Isto anda mesmo mau» ou « Assim é que a gente nunca mais anda pá frente!»...
O problema é que enquanto andamos todos distraídos a pôr a culpa na crise, a crise toma conta de nós e depois é que nunca mais saímos dela.
Isto tudo para dizer que temos de olhar o futuro com optimismo, porque o pessimismo sempre foi alimento para estas "vacas magras"...
Muitas famílias podiam ter evitado as desgraças que lhes aconteceram se tivessem olhado para as despesas ao mesmo tempo que olhavam para a carteira... É que enquanto punham a culpa na crise, tentaram disfarçar a sua própria falta de definição de prioridades e a sua vida acima das possibilidades.
O pessimismo só chega na altura de pagar as contas, quando chega a prestação do empréstimo - aí a culpa é do raio da crise!!!
Eu digo, às vezes é... mas em muitas «olhe(m) que não»!!!

12 de novembro de 2007

Semelhanças

Anteontem vi uma reportagem na TV que me surpreendeu. Parece que os espanhóis que vivem na região da "Extremadura" estão a apostar em aprender português desde tenra idade, com o intuito de poderem vir um dia trabalhar para Portugal.
Nem sequer vou falar que não seria propriamente uma coisa muito inteligente de se fazer, tendo em conta que somos nós que estamos a emigrar para Espanha em busca de melhores salários, mas venho apenas dar conta de uma coisa de que me apercebi: é que afinal somos mais parecidos com os "nuestros hermanos" do que eles próprios pensavam ( e nós também).
O povo espanhol não está habituado a ouvir outra língua que não a sua (todos os filmes e programas são dobrados e por norma só ouvem música espanhola). Assim, quando tentam aprender o português falam com aquele sotaque melodioso cheio de vogais abertas e "éles" que tanto lhes é tão particular. E é aí que somos parecidos, porque os portugueses têm a mania que falam espanhol, basta mudar o sotaque às palavras portuguesas; por sua vez, os espanhóis pensam que falam português desde que leiam as palavras escritas em português, independentemente da entoação. Cria-se então uma língua - o "portunhol", que nos aproxima a todos.
Ao criar esta língua que não é de ninguém, mas é de todos, pode ser que deixemos de ir a Espanha e ouvir o antipático "non te entiendo"!!!

11 de novembro de 2007

Génio

Tenho um fascínio especial pela mente humana. Especialmente quando a complexidade da nossa mente se revela num génio.
Existem génios nunca descobertos por esse mundo fora. Mas um deles foi português: FERNANDO PESSOA.
A minha admiração por Pessoa vai para além da escrita fluida e clara, para além das palavras simples que dizem tanto. Ainda hoje me escandalizo com um UM humano que afinal tem matéria para ser mais de QUATRO?! A imaginação (e dizem as más línguas, o ópio também) levou-o a desenvolver vários "eus", com personalidade e vida própria. E eu não posso deixar de o invejar... Por vezes, quem não daria tudo para conseguir evadir-se de si próprio e experimentar ser diferente, pensar diferente?! Ele conseguiu! E conseguiu de uma forma que a mim me parece perfeita.
Quando preciso de ler algo pequeno e que toque a alma, procuro poemas de Pessoa e sinto sempre que não há nada melhor...


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado,
Para fora da possiblidade do soco;
Eu que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu que verifico que não tenho par nisto neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo,
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu um enxovalho,
Nunca foi senão - princípe - todos eles princípes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana,
Quem confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó princípes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde há gente no mundo?
Então só eu que é vil e erróneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Álvaro de Campos

7 de novembro de 2007

O futuro

O que é bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura...
E que a doçura
Que se não prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova...
Miguel Torga

6 de novembro de 2007

Questão de números

Os piores resultados dos alunos nas escolas são a Matemática. Os estudantes não atinam com as operações a fazer com os números. "É tudo muito complexo", dizem.
Curioso... Especialmente se atentarmos no "big bang" da matemática nas nossas vidas:
  • as somas, multiplicações e muitas subtracções com os Euros do ordenado;
  • os (míticos) 3% do défice;
  • as vítimas num desastre de viação;
  • os mortos num atentado terrorista.

Estes são números com os quais todos estamos familiarizados, números com história, mas sem rosto. As pessoas, elemento fundamental da sociedade, reduzem-se a algarismos.

Porquê?

Porque dói muito mais pensarmos nos que contam os tostões, nos que procuram desesperadamente um meio para trabalhar, porque o despedimento lhes bateu à porta para que se cumpram as metas comunitárias do que num número. Tudo seria pior ainda se víssemos os rostos dos que choram pelas vítimas. Imaginem um número igual ao das vítimas, mas de famílias de luto.

Acho que o recurso aos números é uma técnica útil para disfarçar... e até temos desculpa, afinal, não somos nada bons a matemática...

5 de novembro de 2007

Estar

Lisboa, Baixa Pombalina, 22h.
Os poucos que se vêem nas ruas apressam-se para apanhar os transportes para casa.
Provavelmente vêm do trabalho cansados, entediados de cumprir as suas obrigações, de obedecer aos chefes. Correm porque querem chegar ao conforto do lar onde podem recobrar energias.
Deambulam, porém, outros naquelas ruas. Sem trabalho, sem pressas, sem casas.
São simplesmente sem-abrigo. Por uma razão ou por outra escolheram uma vida de exclusão - sem amigos, sem contributo para a sociedade, sem onde morar.
Moram no Mundo, e estão no Mundo, simplesmente.
Sem pressas, sem horários, vivem no perfeito do verbo estar.
Perguntem-lhes se não queriam uma casa. A maioria responder-vos-á (chocantemente para alguns) que não, que esta foi a sua escolha, que a rua é a sua casa. Não terá de trabalhar para pagar a hipoteca nem todas as "mordomias" que uma vida em sociedade exige. Porque simplesmente não quer fazer parte da mesma.
É claro que outros não tiveram escolha. E esse é um assunto tão grave que não me atrevo a debruçar aqui sobre o mesmo.
No rebuliço da vida podíamos optar por ser um "pouquinho de" sem-abrigo: o estar é por vezes mais importante do que ter, fazer e conseguir.

3 de novembro de 2007

Magusto

"A tradição remonta, pelo menos, ao século XVII, ao ano de 1698, e deriva de uma obrigação contraída pela Igreja da antiga Vila do Porco, hoje Aldeia Viçosa. Em virtude de uma doação feita por uma "velha", pensa-se que abastada, talvez até «uma das antigas condessas a quem foi confiado o território portucalense», todos os anos, volvido o Natal, a Igreja tinha por obrigação a esta "velha" rezar-lhe um "Padre Nosso" e que o povo, um dia no ano, pudesse beber vinho e comer castanhas."
[v. http://www.freipedro.pt/tb/261296/guarda7.htm]

Quem diria que uma "velha" de quem ninguém sabe o nome seria a origem das nossas castanhas quentinhas e da boa água-pé, aos quais a gula juntou o chouriço e a batata doce para alegria dos participantes da mesa?!
Abençoada senhora que ao fazer bem aos pobres por meio da Igreja instituiu uma tradição que, apesar de já não ser cumprida com os objectivos de antes, ainda hoje junta família e amigos ao redor de uma mesa.

Pontos de Vista

No outro dia assisti a uma conversa em que duas pessoas não se entendiam quanto às qualidades de uma outra.
Pensei "realmente para cada actuação humana há sempre dois pontos de vista":
- Se um homem engana a mulher é um sacana, mas é também um garanhão;
- Se um homem é sensível, é logo chamado também de maricas;
- Se uma pessoa é generosa, é porque é tudo show-off;
- Se alguém é religioso, é porque é cínico;
- Se é frontal, é rude;
- Se é honesto, é parvo;
- Se é simpático, é lambe-botas;
etc, etc, etc.
E o mais engraçado é que cada uma destas visões varia conforme o relacionamento que temos com a pessoa em questão: se é alguém de quem gostamos é apenas um garanhão, sensível, generoso, religioso, frontal, honesto e simpático.
Por isso, antes de avaliarmos os outros do nosso ponto de vista, se calhar vale a pena colocarmo-nos no lugar dos seus amigos e talvez o Homem nos pareça bem melhor
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